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LARGO DA CONCÓRDIA
Projeto de requalificação urbana
Desenvolvido em conjunto com os colegas Bruno Layus e Ana Maria Binazzi
 
Localização estratégica do Largo da Concórdia, nó articulador do sistema de transporte coletivo de São Paulo
 
Localização

O Largo da Concórdia localiza-se no eixo de ligação entre o Centro e a Zona Leste da capital, configurado pelas avenidas Rangel Pestana e Celso Garcia. Configurou-se quando da construção da Estação do Norte da Estrada de Ferro Central do Brasil; era desta estação que partiam os trens com destino ao Rio de Janeiro. Hoje, a Estação Brás é uma das principais do sistema de transporte sobre trilhos da região metropolitana, conexão entre as linhas de trens da Cia. Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e a Linha Vermelha do Metrô.
 
O Largo da Concórdia totalmente ocupado por vendendores ambulantes (mancha azul à direita do mapa).
 

Fluxos e conexões

O Largo da Concórdia faz conexão entre trens e metrôs, entre este sistema sobre trilhos àquele sobre pneus, entre a estação e o movimentado centro comercial do bairro e entre as duas margens da estrada de ferro, que segrega o bairro em duas áreas distintas. O grande fluxo de pedestres que se apropriam daquele espaço para trocar de transporte ou acessar o bairro e o fácil acesso daqueles provenientes da periferia da cidade, são fatores responsáveis pela atração de um número considerável de vendedores ambulantes, que ao ocupar toda a área da praça, obriga o pedestre a dividir o espaço restante com o fluxo de automóveis e ônibus. Para garantir a transposição destes sobre a linha férrea, foram construídos nos anos 1960 dois viadutos que ligam o Largo às ruas do Gasômetro e Rangel Pestana, reforma urbana que afetou drasticamente o uso daquele espaço. As duas estruturas somadas às ruas que foram abertas para conectar-lhes, segregaram a praça espacialmente e visualmente.

 
Maquete do projeto sobreposta à foto de satélite.
 
Informalidade: primeira consideração

A informalidade é uma genuína natureza do brasileiro e é dela que surge a hospitalidade, a facilidade ao encontro e comemoração; ela é característica de uma população rural, onde a vida não exige tantas convenções sociais como na grande cidade. O Largo da Concórdia é o ponto de convergência do genuíno brasileiro que vive nas periferias ou no próprio bairro, que ao migrar do campo para a cidade apropria-se dele para a vivência ou sobrevivência informal, provocando um choque cultural.

Um espaço para festas folclóricas

O programa para requalificação do Largo da Concórdia percebe a potencialidade de convergência deste logradouro, promovendo a troca da informalidade do comércio, pela informalidade das tradições culturais e folclóricas do sertão brasileiro: uma grande praça seca para a prática de vestejos como a Folia de Reis e o Bumba-meu-boi, escola do folclóre e oficinas para a confecção de indumentárias, teatro fechado e anfiteatro ao ar livre.
 
Pavimento inferior, permeado por áreas verdes.
 
A organização do programa

Além das questões antropológicas que orientam a ocupação do espaço no Largo da Concórdia, o programa considera também seus aspectos infra-estruturais para o bairro, determinados pelos fluxos e conexões, transposição da linha férrea, ausência de equipamentos culturais, além da escassa existência de áreas verdes na região.

Piso inferior: parque como área de estar

O subsolo é escavado para dar lugar à conexão com o sistema viário, o tráfego de automóveis, pontos de linhas de ônibus, táxis e ônibus de turismo, removendo os viadutos. Para não dificultar a presença do pedestre no subsolo, marquises serão construídas onde forem extritamente necessárias, acompanhando o desenho dos fluxos de pedestres. Aberturas lineares entre as vigas de sustentação facilitam a iluminação e ventilação das áreas verdes e da praça de encontro, local para embarque e desembarque dos ônibus de excursão que trazem turistas do interior para fazer compras no bairro.
 
Maquete do projeto sobreposta à foto de satélite.
 
Piso superior, transposição e fluxos

O conjunto de edifícios-marquises integrados por passarelas metálicas acompanha o diagrama de fluxos de conexões entre a estação e o centro comercial do outro lado do largo, configuram passeios na altura das copas das árvores que brotam do parque no pavimento inferior; a praça de festas é a maior delas, dividida em duas partes, a menor delas inclinada de modo a configurar uma arquibancada sem degraus, anfiteatro plano de onde é possível observar os festejos e que permite a saída da praça de encontro no pavimento inferior.
 
Corte transversal da praça: à esquerda, o teatro, conectado por uma passarela à marquise central (á direita) que faz a transposição sobre a linha férrea.
 
Passarela, transposição da linha férrea

Para fazer a transposição entre as duas margens da linha férrea de forma que garantisse uma inclinação favorável, foi concebida uma passarela metálica (viga Vierendel) foi concebida de forma a compor uma peça solta entre a marquise e o teatro. Para justificar o uso de elevaores para acesso à platéia do teatro, este serve também ao uso público para transpor a diferença de níveis; o uso de elevadores na transposição da linha férrea evita o uso de uma segunda passarela ascendente, o que prejudicaria a qualidade espacial do espaço urbano.
 
Planta e corte do Teatro, desenho extritamente estrutural, que acompanha os esforços aplicados sobre a estrutura.
 
Teatro

O teatro é uma composição de jogos de força extritamente estruturais. Um pilar/empena cega nas laterais suportam as vigas transversais da platéia, que exerce a maior carga sobre a estrutura. Duas colunas dão sustentação à caixa cênica, garantindo o vão livre necessário à boca de cena, enquanto três pilotis servem de apoio à laje que abriga a sala de ensaios no primeiro pavimento e o vestíbulo de acesso no segundo, onde há o café e sanitários.
 
Perspectiva do conjunto: em primeiro plano, o teatro, conectado à marquise central por uma passarela metálica. Á esquerda, as varandas que abrigam as oficinas, cuja cobertura configura o desenho de piso da praça. Ao fundo, a praça das festas, com piso inclinado para facilitar a sua observação e servir de cobertura à rampa de acesso no pavimento inferior.